O movimento político-militar vai de 19 de setembro de 1835 a 11 de setembro de 1836. Era a revolta de uma província contra o Império da qual fazia parte. A 11 de setembro, proclamava-se a República Rio-Grandense e já não se pode falar em revolução, mas guerra, a luta aberta entre duas potências políticas independentes e soberanas: uma república de um lado e um Império de outro. A Revolução Farroupilha irrompeu a 19 de setembro de 1835, quando os liberais, depois de inúmeras conspirações, sobretudo dentro das lojas maçônicas, partiram para a deposição do presidente Antônio Fernandes Braga, sustentando que este violava a lei e deveria ser substituído. Os farroupilhas Gomes Jardim e Onofre Pires desbarataram a Guarda Municipal (núcleo inicial da futura Brigada Militar do Estado), vindos do morro da Glória, e Fernandes Braga foge para o porto de Rio Grande, abandonando Porto Alegre. A 20 de setembro, Bento Gonçalves da Silva, vindo de Pedras Brancas (Guaíba) entra, triunfante, na Capital e, na ausência dos três primeiros vice-presidentes, empossa no governo o 4º presidente, Dr. Marciano Pereira Ribeiro, nomeando como Comandante das Armas o Cel. Bento Manoel Ribeiro, homem de personalidade difícil e caprichosa e sem convicção liberal, seguidor de seus próprios interesses, através dos quais se uniram os farroupilhas, no início do movimento.É ainda Bento Gonçalves que consegue, com o Rio de Janeiro, a nomeação do novo presidente, o deputado José Araújo Ribeiro, que assustado com a efervescência de Porto Alegre, resolveu, ao chegar do Rio de Janeiro, empossar-se em Rio Grande. Foi o bastante para que os farroupilhas, mais exaltados, retirassem-lhe o precário apoio. Bento Ribeiro troca de lado, voltando a servir o Império e, para seu posto, é nomeado o Major João Manoel de Lima e Silva, enquanto o Dr. Mariano Pereira Ribeiro foi mantido pela Assembléia Providencial como Presidente.
A Guerra dos Farrapos
A facção republicana dos farroupilhas, que não era majoritária, impôs-se às demais diante do fato consumado. Bento Gonçalves da Silva nem teve tempo de discutir o assunto da Proclamação da República porque, dirigindo-se ao encontro de Souza Neto, foi derrotado em pleno Jacuí, na ilha do Fanfa, e aprisionado junto com vários companheiros, sendo remetido para a fortaleza de Santa Cruz, Rio de Janeiro. A vocação brasileira dos republicanos rio-grandenses fica bem evidenciada pela expedição à Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana, e pela recusa sistemática de receber recursos humanos dos países platinos para combater o Império do Brasil.Ao longo das vicissitudes da guerra, muitas vezes carregando a Capital da República, o Tesouro Nacional e até a Imprensa Oficial no lombo, os farrapos organizaram o Exército (Cavalaria, Infantaria e Artilharia), a Marinha de Guerra e a Polícia. Montaram um sistema fiscal adequado, sem que se verificassem requisições escandalosas ou esbrulhos. Construíram escolas públicas, cidades, estradas e pontes e, mais do que isso, a economia do Estado, centrada no charque e na exportação do gado em pé, não sofreu maiores abalos. Certamente, graças a estes méritos que não houve lesões profundas com o Brasil, nem ódios acirrados, os rio-grandenses terminaram por conseguir, através do Barão de Caxias, uma paz altamente honrosa, verdadeira vitória, celebrada em igualdade de condições de potência a potência. Os encontros armados entre as duas nações em luta foram numerosos ao longo dos nove anos. Basta, para o presente estudo, dizer que foram escaramuçadas, combates, cercos e batalhas (quando entram em ação a Cavalaria, Infantaria e Artilharia) em terra. No mar, na Lagoa dos Patos e nos rios houve inúmeros combates navais, onde brilhou, em ação, a Marinha Republicana.
Panteão do Decêncio Heróico
Ao longo dos 10 anos, inúmeros nomes salientaram-se em ambos os lados, aureolando com a glória os heróis. Dentre eles, Bento Gonçalves da Silva protagonizou episódios onde a nobreza, a coragem e o desprendimento estiveram sempre em primeiro plano. Davi Canabarro (Davi José Martins), Antonio de Souza Neto (o proclamador da República Rio-grandense), João Antonio da Silveira, João Manoel de Lima e Silva (o primeiro e mais jovem general dos farrapos) e Bento Manoel Ribeiro formaram, junto a Bento Gonçalves, o sexteto dos generais farroupilhas.Luiz Alves de Lima e Silva, o Barão de Caxias, foi o militar brilhante e diplomata emérito ao lado do Império. A ele se deve a pacificação do Rio Grande do Sul. O tratado de paz, assinado pelos farrapos em Ponche Verde a 28 de fevereiro de 1845 e, pelos imperiais, às margens de Santa Maria no dia seguinte (1º de março), pôs fim a 10 anos de luta cruenta entre irmãos.
FAGUNDES, Antônio Augusto. Cartilha da história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, MartinsLivreiro, 1986, p. 80-83.